Pe. João Gomes, religioso assuncionista
Celebramos com verdadeira alegria na fé a assunção de Nossa Senhora no dia 15 agosto. Uma solenidade litúrgica que finca as suas raízes numa longa tradição, mas que é oficialmente reconhecida na Igreja com a proclamação do dogma por Pio XII, em 1 de novembro de 1950, na Constituição apostólica Munificentissimus Deus: “A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (nº 44).
Cada ano, a Igreja no Brasil toma a liberdade de transferir essa festa para o domingo seguinte toda vez que o seu dia próprio coincide com os dias de trabalho na semana. Desta maneira, procura assegurar a participação do maior número possível de fiéis, formando uma comunhão bonita ao redor da bem aventurada Virgem Maria que, elevada aos céus, nos aponta o rumo de nossa destinação comum pelos méritos de Jesus, seu Filho e nosso redentor.
A assunção de Maria nos confirma o caminho da fé ofertado por Jesus e oferece grandes lições. De fato, Maria é a primeira, dentre os cristãos, a desfrutar da realidade nova e radical da ressurreição do Senhor. O seu corpo glorificado no mistério insondável da Trindade, e nele inserido eternamente, nos sugere olhar para os corpos feridos, de tantos irmãos e irmãs, no grande tecido social de nossa pátria gentil. Esta realidade sem fronteiras e com múltiplas facetas recebe, na assunção de Maria, uma iluminação especial com os “raios” da misericórdia infinita de Deus, que, em Cristo, não deseja que nenhum dos seus filhos se perca, mas tenha a vida em abundância (Jo 10,10). Deixar-se atingir por este “brilho espiritual” nos desperta a compaixão e a solidariedade para com os últimos da sociedade, os pobres, os enfermos, os idosos, e outros tantos.
A assunção de Maria nos faz ainda pensar na integridade da criação que, sofrendo as consequências do consumo predatório de seus recursos, “geme em dores de parto” (Rm 8,22) até ver manifestado o dom da filiação dos filhos e filhas de Deus, a dignidade e a vida garantida para todos.
Percebemos, pois, que a celebração da assunção de Maria nos põe ao alcance de uma destinação comum, mas igualmente nos convoca a correr os mesmos riscos, a viver a mesma aventura do jovem de Nazaré. Celebrar essa festa com uma fé amadurecida, expressão de quem honestamente se compromete com Deus, nos define como grãos de trigo que morre para gerar frutos.
Vamos lá! Vivamos o mês de agosto com nossa Mãe Maria, assunta aos céus, refletindo as diferentes vocações, como aposta numa Igreja toda ministerial, a serviço da vida, sinal e instrumento do Reino definitivo de Deus, nosso Pai.