Aos Religiosos e Leigos/as da Aliança
Sobre nossas próximas Assembleias, um caminho de discernimento e os 90 anos dos Assuncionistas no Brasil…
Prezados/as Irmãos/as,
É o Senhor Quem sustenta nossas vidas!
Como sabemos, é dever do provincial e do seu conselho prestar o serviço de conduzir os processos de discernimento, reflexão e decisão acerca das prioridades e desafios da Província, sempre orientados pelos textos dos capítulos em vigência. Ora, nosso capítulo provincial nos convidou a não renunciarmos ao sonho de uma nova inserção missionária. Com efeito, o Documento 1.5 do texto capitular diz: “Uma fundação fora do eixo Rio-Minas-São Paulo continua sendo um desejo” e, mais adiante, no mesmo Documento, se encontram as estratégias e meios para realizarmos esse desejo: “Submetendo qualquer decisão concernente às nossas inserções e eventuais novas implantações a um apurado processo de discernimento” e ainda “Retomando e refletindo a possibilidade de uma nova fundação fora do eixo Rio-Minas-São Paulo”.
Assim, é nosso desejo começar um caminho que seja construído em espírito de fraternidade e sinodalidade, também impulsionados pelo Grande Jubileu que começará em breve e, para o qual, o Papa Francisco nos convoca, não como meros espectadores, mas como peregrinos; Peregrinos da Esperança! Tudo isso bem considerado e, inspirados por nossas orientações capitulares, nós desejamos propor à Província um tempo de reflexão e amadurecimento sobre a possibilidade de uma nova inserção pastoral. Esta reflexão quer ser também um marco celebrativo pelo 90º aniversário da chegada dos primeiros assuncionistas no Brasil, data a ser comemorada em novembro de 2025. Animados, pois, com todas essas motivações, desejamos construir juntos este caminho. Eu os convido a que nos coloquemos à escuta do Espírito. O que Ele nos diz hoje ao coração? Certamente, entre tantas coisas, Ele nos impele a não cedermos à tentação do desânimo, da indiferença e, às vezes mesmo, do desespero… Ao contrário, o Espírito nos convoca e nos impele a renovarmos nossas forças e a nos lançarmos na aventura extraordinário do encontro com Ele, com os irmãos e com a Igreja. É ao Espírito do Senhor, que faz novas todas as coisas (Ap 2, 15) que nos confiamos, dando de nossa pobreza e pedindo os dons da Sabedoria e do Entendimento.
Assim, para vivermos este tempo de graça e esperança, inspirados na proposta de discernimento muitas vezes evocada pelo Papa Francisco, é que convidamos nossa Província a se deixar orientar por três verbos fortes:
Contemplar, Discernir e Propor
Este processo de discernimento que iniciamos agora, às vésperas do Grande Jubileu, será composto por um ciclo de Assembleias que pensamos organizar do seguinte modo:
Segundo Semestre de 2024 (18, 19 e 20 de novembro) – Contemplar… Vamos nesta Assembleia considerar a realidade da Igreja no Brasil neste momento histórico, a realidade da Vida Consagrada, seus desafios e oportunidades! Desta reflexão vamos colher algumas informações que, creio, serão importantes para um segundo momento. Contemplar significa que nós podemos ver mais além do que a vista alcança. Peçamos ao Senhor, os olhos de ver… O mundo atual é uma parábola a ser decifrada. “É por isso que uso parábolas: eles olham, mas não veem; escutam, mas não ouvem nem entendem”. Mt 13:13-16. Senhor, dá-nos olhos de ver, olhos para enxergar além do que a vista alcança e penetrar o âmago dos acontecimentos, dá-nos, Senhor, olhos que nos ajudem a redescobrir a beleza de nossa vida consagrada, de nossa entrega; como quem descobre pela primeira vez o extraordinário. Tal como nesse poema de Adélia Prado:
Um homem na campina olhava o céu.
As estrelas pareciam aumentadas, de tamanho brilho.
Estrela, ó estrela, estrelas,
ele suplicou como se injuriasse.
Os que alimentavam o fogo
aproximaram-se admirados:
nós também queremos, repeti para nós.
Ó noite de mil olhos, reluzente.
Os vocativos
são o princípio de toda poesia.
Ó homem, ó filho meu,
convoca-me a voz do amor,
até que eu responda
ó Deus, ó Pai.
Após essa primeira Assembleia, nós pensamos em realizar um encontro mais descontraído, para podermos partilhar a alegria de nossa vida fraterna. Assim, na Assembleia do primeiro semestre de 2025 (24, 25 e 26 de março), local a ser definido posteriormente, faremos uma manhã de reflexão sobre os trabalhos de nossas comissões e, depois, teremos um tempo para estarmos juntos… partilhando a vida, e deixando decantar em nós o que o Espírito irá nos comunicando.
Na Assembleia do Segundo Semestre de 2025 (17,18 e 19 de novembro) será o momento de discernir. Para tanto, vamos olhar mais diretamente para nossa realidade provincial, refletir a partir de nossas forças e debilidades… Para esta Assembleia, vamos contar com uma representação dos Leigos da Aliança, para que eles também nos ajudem a discernir nosso projeto, a partir de nossa realidade e celebrem conosco os 90 anos da presença assuncionista no Brasil. Este discernir é um passo a mais rumo à implantação de uma nova comunidade. Ora, muitas coisas podem mudar, mas nós podemos considerar que, se tudo caminhar como previsto, em três anos teremos a ordenação de 05 novos religiosos para o ministério presbiteral! Precisamos olhar este momento com grande confiança em Deus; se há tantos desafios, há também muita esperança, um futuro promissor para nossa Província.
Em nossa reflexão devemos também considerar a realidade de Angola, a nossa outra face, do outro lado do Atlântico; ali 05 jovens já estão no Aspirantado e, muito em breve, eles serão admitidos ao Postulantado; muitos outros jovens estão em acompanhamento vocacional, na última comunicação que recebi de nossos irmãos em Angola, nós já tínhamos mais 12 vocacionados! Como não vibrar diante destas notícias! Nós todos somos corresponsáveis por Angola, haverá esforços que deveremos ampliar. A solidariedade de nossas atuais inserções nunca foi tão necessária, perseveremos nesse caminho. Não podemos perder a graça que nos visita… que ela não passe sem deixar em nós um sinal. Não foi isso que nos ensinou nosso Patriarca Santo Agostinho? “Tenho medo de Deus que passa, e não volta mais” (Serm. 88, 14, 13). Mas o mesmo Agostinho, depois de experimentar a Deus vivo e verdadeiro nos legará uma das mais belas páginas de nossa espiritualidade: “Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, (…) Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus!” (Livro X, confissões) Creio prezados irmãos, Religiosos e Leigos/as da Aliança, que o tempo para nós é agora… os sinais o mostram, Deus o quer… Queiramos nós também!
Com efeito, depois destas reflexões, passado o ano de 2025, na Assembleia do primeiro semestre de 2026 será o momento de propor. Enriquecidos com as reflexões que tivermos feito, vamos iniciar a concretização do nosso projeto. Para onde iremos? O que faremos? Como nos organizaremos? Com quem contaremos? Será o momento da decisão, de assumir o compromisso, de nos lançarmos para abraçar uma nova realidade. Assim, tendo definido de maneira mais concreta nossa nova missão, logo no início de 2026, teremos todo aquele ano para implementar o projeto, fazer as tratativas com as igrejas locais, estabelecer datas, consultar os envolvidos, definir prioridades…
No entanto… Se eventualmente chegarmos à conclusão de que, por razões diversas, não é ainda o momento de realizarmos uma nova implantação missionária, não tenhamos medo de, mesmo assim, ser agradecidos a Deus e aos irmãos. Pois todo caminho de discernimento tem sua beleza, vale por si, pois nos enriquece e nos ajuda a ouvir o Espírito que vive em nós. Não será um problema se, ao final do processo, chegarmos à conclusão de que o melhor é postergamos um pouco o sonho; nada há de vergonhoso em reconhecer nossas limitações, em recuar para refletir melhor, em recalcular a rota. Mas de uma coisa não tenho dúvida: teremos saído mais enriquecidos, mais fraternos, mais implicados num projeto provincial, e a vida continuará seu curso, até o momento em que as coisas sejam favoráveis. O fato é que não haverá tempo perdido se nos deixamos guiar pelo Espírito e pela Misericórdia de Deus. “A esperança não decepciona”. É certo! “Essa esperança não nos decepciona, porque o amor de Deus foi derramado no nosso coração por meio do Espírito Santo, que Ele nos deu.” (Rm 5,5). E Padre d´Alzon, nosso venerável fundador, ainda nos instrui, “A esperança será para nós o princípio de uma confiança absoluta para com Nosso Senhor, em todas as provações…” (Diretório, p. 53). Queiramos o que Deus quer, e tudo mais virá no tempo oportuno.
De todo modo, queridos irmãos e irmãos, nossa mirada está posta na esperança de que este discernimento nos levara a propor, no início de 2026, uma nova fundação! Isso feito, como disse acima, nos organizaremos durante aquele ano para que, no início de 2027, possamos ver surgir uma nova comunidade assuncionista na Província do Brasil… Assim, a Primeira Assembleia daquele ano, será um momento festivo, de ação de graças, celebrada também com a presença dos Leigos da Aliança!
Queridos irmãos, é este o espírito que nos anima, eu os convido a que sonhemos juntos, que do sonho passemos à contemplação, da contemplação ao discernimento, e deste às proposições concretas… Que neste tempo sejamos animados pela esperança, acalentados pelos nossos sonhos e impulsionados pelo Espírito.
Abramos as nossas portas ao novo de Deus e caminhemos confiantes, acolhendo o Reino de Deus em nós, pela vida interior e cultivando-o à nossa volta, pela vida fraterna e pelos nossos compromissos apostólicos. “Senhor, que teu Reino Venha!”
São Paulo, 07 de novembro de 2024