Sonia Chiesa*
Queridos amigos, hoje quem responde às perguntas para a Folha Paroquial é o Pe. Luiz Gonzaga da Silva aa, superior provincial dos Agostinianos da Assunção no Brasil.
Pe. Luiz, fale um pouco sobre a origem da Congregação.
A Congregação dos Agostinianos da Assunção foi fundada pelo Pe. Emmanuel d’Alzon na noite de Natal de 1850, na França, no século XIX. Pe. d’Alzon nasceu no dia 30 de agosto de 1810, em Le Vigan, sul da França, e foi ordenado sacerdote em Roma, no dia 26 de dezembro de 1834. Faleceu no dia 21 de novembro de 1880.
Em 1935, a convite de Dom Sebastião Leme, os Assuncionistas vieram para o Brasil e se instalaram no Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo. Somos uma Congregação internacional. Desembarcaram aqui holandeses e franceses. Hoje, a Província do Brasil conta com quatro nacionalidades: franceses, brasileiros, congoleses e congo-Brazzaville. Quanto aos holandeses, alguns faleceram, outros retornaram à terra natal.
Como é administrar, em meio a um surto de coronavírus, toda a Província no Brasil?
É muito difícil viver em meio a urna realidade pandêmica. A pandemia não só engessou o ir e vir das pessoas, mas também um conjunto de fatores que favorecia a dinamicidade da Igreja e de nossas casas de inserção. ‘lidos os projetos selecionados em assembleias foram interrompidos por orientação do governo provincial. Era impossível manter o ritmo diante de tão grave situação. Cabe ressaltar que as nossas paróquias vivem de coletas e dízimos e, com o fechamento das igrejas, tivemos que repensar e reorganizar a planilha de gastos, mantendo o indispensável. Muitos paroquianos ofertaram o seu dízimo por meio do depósito bancário, mas uma minoria. Com a pandemia, veio a crise financeira que mexeu com todos. As coletas foram reduzidas a 10% do habitual. Rezo todos os dias por aqueles que estão nos ajudando e também por aqueles que não estão podendo, pois creio que em breve tudo será resolvido.
Como a pandemia afetou a rotina dos padres, seminaristas e colaboradores?
Ninguém ficou imune a essa realidade. Estávamos acostumados com um ritmo, de repente somos forçados a outro. Seminaristas com aulas on-line. Imaginem um jovem cheio de energia, com os hormônios saindo pelos poros, ter que ficar 24 horas dentro de uma casa entre o quarto e a biblioteca. Padres idosos que não podem mais rezar Missas com a presença de fiéis depois de ter passado a vida fazendo isso. Assim foi violada uma configuração psicológica construída ao longo de muitos anos. Com isso, vêm as crises, as ansiedades, angústias, mesmo sendo padres ou seminaristas. Cabe ressaltar também a realidade familiar: as crises se acentuaram, o número de divórcios cresceu, os espinhos se ouriçaram, o feminicídio aumentou e a violência doméstica tornou-se realidade mais realçada. Aumentaram, também, a depressão e a síndrome do pânico. Nesses casos, o melhor é procurar um psicólogo ou um psiquiatra, pois, às vezes, só rezar não basta.
Mas as pessoas começaram a rezar mais…
É normal que, em meio aos apuros, o sagrado seja mais procurado. Porém, é uma atitude mesquinha. E viver uma religião mercadológica; se preciso, busco para satisfazer minhas demandas, para aliviar meus medos. Mas isso não é louvável. Contudo, há quem diga que quem não procura Deus por amor, vai procurar na dor. Tomara que essa intensidade aumentada se torne uma constante após a pandemia, não com a visão de um Deus que resolve tudo, mas de um Deus que move o ser humano para transformar realidades de morte em vida. Que essa consciência orante fique no coração daquele que buscou orar mais na dor. Sempre há tempo para a conversão, para crescer na fé e na qualidade do agir enquanto chamado para um relacionamento mais apropriado com Deus.
A solidão tornou-se um fator de risco para as pessoas mais vulneráveis. O que a Igreja pode fazer para ajudá-las?
A Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, de outubro de 2018, publicou um artigo que diz que a “solidão constitui um problema social cada vez mais prevalente, devido ao envelhecimento populacional e às mudanças na organização da sociedade e na estrutura e dinâmica das famílias”. Esses fatores continuam atuais, as mudanças continuam galopantes e muitos não conseguem se adequar. Não sabem conviver com mudanças de ordem estrutural e nem com as perdas, seja de familiares, de um animal de estimação, o emprego que se foi e os anos que não voltam mais. Essas pessoas precisam de um olhar diferenciado.
Diante disso, o que a Igreja pode fazer? Penso que seria mais oportuno se nos perguntássemos o que podemos fazer enquanto Igreja? Diante dessa questão, eu digo que é preciso comprometer-se com projetos que levem em conta os vulneráveis, os pobres e se colocar do lado daqueles que se preocupam com a qualidade de vida dessas pessoas. E preciso ser Igreja samaritana, acolhedora, que estende a mão, o ouvido, sendo solidária com aqueles que mais precisam.
Muitos chamam a “Pandemia” de “pandemônio”, como responder a essa interpretação?
Segundo a OMS, uma pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença, com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. Em 1580 surgiu o vírus influenza, na Ásia, que se espalhou pela África, Europa e América do Norte. A gripe espanhola, entre os anos de 1918 e 1919, com cerca de 50 milhões de mortes. A do HIV, no Congo, em 1920 e, por último, a Covid-19, com mais de 100 mil mortos no Brasil. Transformar pandemia em pandemônio é o que têm feito alguns políticos por suas inabilidades para lidar com a situação, chamando-a de gripezinha, criando com isso uma realidade demoníaca, diabólica, que separa pessoas, famílias e até o país, devido à falta de competência para lidar com o tema. Não levar a sério uma realidade que mata é se comportar como um verdadeiro demônio. A pandemia em si é cruel, porém, mais cruel ainda, é aquele que nada faz ou muito pouco fez para conter o avanço desenfreado de um vírus que continua atropelando vidas todos os dias em nosso país.
Mensagem aos leitores
Meus amigos, sejamos mais compreensivos para com nossos semelhantes, amemos mais e briguemos menos, respeitemos a vida e a dor das pessoas. Sejamos verdadeiros discípulos de Jesus, que tudo fez para que a vida pudesse fluir em abundância para todos. Na hora de votar pense bem, não eleja qualquer um só porque pertence ao seu time. Veja o passado, o presente, analise a vida do seu candidato. 2022 está chegando, cuidemo-nos.
É muito difícil viver em meio a uma realidade pandêmica. A pandemia não só engessou o ir e vir das pessoas, mas também um conjunto de fatores que favorecia a dinamicidade da Igreja e de nossas casas de inserção.