Jonathan Bishop*
Há pessoas que geralmente aparecem quando se buscam soluções para os problemas que surgem em um país em mudança social. Uns chamam a atenção para crescentes divisões de classes, aprofundamento da polarização política, economia anêmica e educação formal e burocrática. As respostas são sempre — no fundo políticas, e os problemas que podem resolver vão mais fundo que a política.
Então, qual é a verdadeira causa subjacente do atual mal-estar político? Secularização.
É uma característica da vida moderna, problema maior do que podemos imaginar. Como sugeriu o teólogo ítalo-ale-mão Romano Guardini em O fim do mundo moderno, a modernidade nos separa de nosso verdadeiro propósito, que é a união com Deus.
Essa separação é o verdadeiro problema, porque leva a mais raiva e aspereza, mais desequilíbrios de poder, mais confusão. A maioria das pessoas não é teóloga, mas provavelmente sente que algo está errado. Elas veem a confusão e a aspereza da época e querem fazer algo a respeito e, então, se voltam para a política, principalmente porque esqueceram de como se relacionar com Deus.
Mas este não é um problema novo. De urna forma ou de outra, existe desde o século 18, quando a Revolução Francesa derrubou a sociedade.
Emmanuel d’Alzon, fundador dos Agostinianos da Assunção, cresceu no século 19, em uma França pós-revolucionária que abandonara Deus.
Em uma carta de 1830 a um amigo, na qual detalhou sua decisão de se tornar padre, ele argumentou que as culturas que perturbam a ordem de ser tornam-se “sem lei” e “doentes”. Ele não podia entrar na política, explicou, porque não seria capaz de influenciar as pessoas de maneira fundamental. Para isso, ele argumentou, teria que se separar da cultura francesa, ligando-se a Deus e à Sua Igreja. Ele basicamente fundou os Assuncionistas para “ir onde Deus está ameaçado no homem e o homem está ameaçado como imagem de Deus”.
Um dos principais apostolados dos Assuncionistas sempre foi a educação; sua metodologia pode contribuir para uma renovação da vida pública, lembrando aos homens que a visão de mundo secular não é abrangente.
Em muitos países, a educação é frequentemente vista como um meio para um fim, não como um fim em si. De acordo com muitos pensadores, o objetivo da educação é promover as “conquistas do aluno” e incentivar a “competitividade global”.
Emmanuel d’Alzon não estava interessado em tais coisas. Sua visão da educação era humana. A educação, ele pensava, traria o mundo de volta à sanidade.
Ele escreveu: “O dardo mais profundo do meu coração é que o mundo seja penetrado pela ideia cristã. Caso contrário, ele desmoronará. E o mundo não receberá essa ideia, a não ser através de indivíduos que serão adotados por ela”.
Sem tal educação, os seres humanos permanecerão apáticos, à deriva e confusos. Os problemas que estamos vendo, continuarão. E por isso que precisamos de ideias. Vou propor “a opção d’Alzon”.
Uma opção d’Alzon existiria como uma espécie de meio termo entre os dois extremos que vemos frequentemente na educação católica: escolas que, apesar de bem-intencionadas, querem ressuscitar a educação antiga da Igreja; e escolas que, além das cruzes penduradas nas paredes (quando têm), não são diferentes de suas contrapartes leigas.
Uma defesa espiritual de Deus deve ser central para uma educação verdadeiramente d’Alzoniana. O objetivo de d’Alzon não era “tornar todos seminaristas”. Em vez disso, era “prepará-los para viver no mundo”, “agir de maneira a fazer os outros amarem e respeitarem sua fé”, estar “profundamente apegados à causa de Deus”.
Ele acreditava na “educação em todas as suas formas” e, portanto, uma opção d’Alzon pode ter vários componentes. Talvez as paróquias possam se tornar centros de educação. Além das aulas de catecismo, poderiam oferecer cursos de literatura, história, política — todos baseados em uma ética cristã. E esta é uma oportunidade perfeita para a colaboração de leigos, envolvendo paroquianos professores ou acadêmicos, mesmo estudantes de uma determinada área. Alimentará uma fome intelectual que a maioria das pessoas tem.
Quanto às escolas, elas devem ser mais orientadas para a missão. São instituições encarregadas, como escreveu d’Alzon, de “penetrar no mundo com a ideia cristã”.
Os estudantes que as frequentam devem entender verdadeiramente o porquê da educação, que é o seguinte: sua formação como seres humanos sérios e atentos, que reconhecem que existe uma realidade mais expansiva e brilhante do que qualquer um deles provavelmente jamais imaginou.
Então, qual seria o resultado da “opção d’Alzon?”
Não podemos esperar que o mundo pare de decepcionar as pessoas, porque sempre decepcionará. É imperfeito, afinal. Mas talvez as pessoas desenvolvessem um sentido mais pleno de sua própria humanidade. E, talvez, comecemos a resolver alguns dos problemas que enfrentamos. (tradução e edição de Ehusson Chequer)
*Coordenador de educação para os Assuncionistas nos EUA.