06 de março de 2007

Missão no Oriente: Sonho, Missão e Inserção

“Tout vient à point pour qui sait attendre”: Tudo vem a seu tempo para quem sabe esperar… É realmente o que aconteceu comigo após 53 anos de Vida Religiosa. No meu noviciado em 1955 o Pe. Judicaël Nicolas (1901 -1984) nos fez uma conferência que me marcou profundamente. Contou-nos que, transferido de Beius na Romênia para Odessa no sul da Rússia, onde assumiu a paróquia São Pedro, em abril de 1945 foi preso e levado à sinistra prisão de Lubianka em Moscou. Alí começa um longo calvário que o levará até Vorkouta na Sibéria. Ao ser libertado em 1954 escreve um livro: “Onze anos no Paraíso” (edição esgotada).

Esse livro não saiu mais da minha cabeça. A Missão do Oriente sempre exerceu em mim o desejo de servir a Igreja, a Congregação e trabalhar em prol da Unidade dos Cristãos nessas bandas. Naquela época ir para lá era impensável, pois, as portas estavam fechadas e a Cortina de Ferro abaixada! Meu espírito missionário me levou a optar então pela América Latina: Argentina, Brasil e Chile, que era a Missão da minha Província de Bordeaux. Mandaram-me para o Brasil em 1963. De fevereiro de 1964 a agosto de 1979 estive na paróquia da Santíssima Trindade, no Rio. De 1979 a 1981 estudei na Suíça, após 25 anos de Vida Religiosa: 2 anos sabáticos! De fevereiro 1982 a dezembro de 1985 estive na Casa de Formação em Campinas trabalhando no economato. Em fevereiro de 1986 reassumi o Economato e o Secretariado Regional no Rio de Janeiro.

Em novembro de 1989 abre-se a “Cortina de Ferro” e o “Muro de Berlim” é demolido. O Pe. Claude Maréchal, Superior Geral, fez a visita do que restava da Assunção na Rússia, Romênia e Bulgária. Escreveu uma circular para toda a Congregação: pedindo voluntários: três tipos de Religiosos seriam bem vindos… “A Assunção se encontrava diante de uma tarefa de re-fundação, tarefa que não poderia esperar muito. Desde então, os voluntários puderam entrar em contato com o seu Provincial”. Em 14 de novembro de 1990 escrevi para o Pe. Jean Pierre Dehouck colocando-me à disposição. A resposta negativa é datada de 11 de dezembro de 1990: “você cumpre uma tarefa na qual você dificilmente seria substituído. Tem um lugar no dispositivo vocacional, notadamente na acolhida de jovens na sua comunidade”. Em outubro de 1993 ao voltar das férias em minha família e passando pela Casa Provincial de Paris, o então Provincial, Pe. Patrick Zago, me perguntou: “Aquela carta que você escreveu em 1990 ainda é válida?”. A resposta foi: “claro que sim”!!! Ele me via na Rússia, mas eu não dependia dele, mas sim do Superior Regional e do Vice-Provincial do Brasil, Pe. Pedro Wouters. “A iniciativa só pode vir do Brasil”. No dia 11 de outubro de 1993 escrevi uma carta nesse mesmo sentido ao Pe. Benoit Bleunven. Em 27 de fevereiro de 1994 escrevi uma longa carta ao Pe. Pedro renovando meu desejo de me colocar à disposição da “Missão do Oriente”. O Conselho da Vice Província decidiu consultar por escrito os Religiosos da Região do Rio: “resposta pessoal e motivada”. As respostas são praticamente todas negativas, por vários motivos, devido ao papel que exercia na Região naquela época. Em 25 de março de 1994 a resposta oficial, negativa, me é dada por escrito pelo Pe. Pedro. Não escondo que ao ler essa carta na Quinta-Feira Santa, chorei!!!

Em 21 de fevereiro de 1998 chego a Pinhal para assumir a Casa de Acolhida e mais tarde, o Economato Provincial. No sábado 22 de julho de 2006, já liberado da Casa de Acolhida e devendo deixar o Economato em outubro, sentia-me livre para, de novo, me colocar a disposição da Missão do Oriente; já que esta era a prioridade da Congregação desde maio de 2003. Entreguei uma carta ao Pe. Marcos, nosso Provincial nesse mesmo dia. No dia seguinte, já em Paris, conversei a esse respeito com o Pe. Geral que ali se encontrava.

Ao voltar das minhas férias, em outubro, o Pe. Benoit Griëre Provincial da França, já a par do meu desejo, teve comigo uma longa conversa … Ele me apresenta a situação atual da Missão do Oriente e me aponta já uma possibilidade… Mas tudo depende do Provincial do Brasil, meu Superior.

Em dezembro de 2006, o Padre Marquinhos e seu Conselho Ordinário me dão o “sinal verde”. A partir daí a tramitação entre os dois provinciais foi rápida. Dia 23 de dezembro de 2006, o Pe. Marquinhos comunica ao Pe. Griëre a decisão “positiva” do Conselho Ordinário. Nos primeiros dias de janeiro recebo a notícia: “Tu és enviado em Missão no Oriente, e para isso és colocado por um tempo à disposição da Província da França… não te escondo que hoje me parece pertinente te propor ir a Romênia, Margineni, com estadia em Blaj. Assim poderás, progressivamente te iniciar na língua Romena. Podes, portanto, do teu lado, com o “sinal verde” do teu Provincial, oficializar a decisão”.

Pe. Griëre disse também: “perguntei-lhe se não tinha um “jovem brasileiro” para te acompanhar, pois seria um sinal extraordinário para a Congregação”!!! A notícia foi divulgada na província, aos meus familiares, amigos, e correspondentes nesse mês de fevereiro.

Dia 11 de março parto feliz para a Romênia, em nome da “Província AA. do Brasil”.

Vou abrir uma porta, quem sabe um dia talvez outros me sigam… para trabalharmos na extensão do Reino e na Unidade dos Cristãos, a fim de que todos sejam um…“ Adveniat Regnum Tuum”.

Dentro de 6 meses será feita uma avaliação sobre minha adaptação, língua, saúde, clima, etc. Tudo dando certo, serei transferido definitivamente para a Província da França a serviço da Missão do Oriente. Caso contrário… Voltarei ao Brasil.

A cada um de vocês o meu abraço fraterno.

Ir. Gwenael Petton

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