“E tudo novamente se tornou novo!”
Com estas palavras introduzi minha mensagem de Boas Festas e de Ano Novo.
….e como se tivesse passado uma varinha mágica, com a chegada das primeiras chuvas as flores de novo brotaram e com suas cores vivas começaram a embelezar o nosso jardim que foi plantado e organizado por nossos irmãos que nos precederam e que agora é cuidado com muita dedicação por nosso irmão chileno Ramón. Porém seu trabalho principal não está aqui, se encontra em bem outro terreno! Pois ele é Diretor da Rádio da Diocese de Riobamba e toda tarde por volta das quatro ele se dirige ao centro da cidade para o estúdio que se encontra no complexo da Cúria Diocesana que ocupa junto com a Catedral, a residência do bispo e os outros espaços administrativos e comunitários, uma quadra inteira de 100 por 100 metros. Bem de noite, por volta das 21.00 horas volta então para casa. Nas horas da manhã prepara seus programas e cuida de seu e nosso jardim. Para ele é uma distração e deste modo nós também temos um espaço agradável para um momentinho de descanso no meio dos nossos afazeres que também não são poucos com as duas grandes paróquias que atendemos. Nosso jardim de repente cria assim vida nova, mas com as primeiras chuvas o povo da roça também começa a arar, semear e plantar e com este clima favorável onde de dia o sol garante um bom calor e de noite, por causa da altura, o ambiente refresca bem, tudo como que a olhos vistos começa a sair do chão e a paisagem mostra novamente uma cara amiga, o ar torna-se mais fresco e outra vez respirável e com toda esta transformação também nós ganhamos vida nova!
Quase ao mesmo tempo vivemos no país um tempo de grande expectativa na área social e política. Um novo presidente deveria ser eleito! Este tempo, no começo, trouxe muita confusão e dispersão por causa dos mais de dez candidatos que se apresentaram para o cargo. No primeiro turno dois candidatos se elegeram: Álvaro Noboa e Rafael Correa. O primeiro, Noboa, é o homem mais rico do Equador. Durante sua vida o seu pai se transformou em o maior magnata das bananas de Equador que muitas vezes é chamado de “República Bananeira”. O filho querido se apoderou, até em prejuízo dos próprios irmãos, desta enorme fortuna e aumentou gradativamente seu poderio até chegar a ser dono de um império de mais de trinta grandes empresas espalhadas em todo o país. Praticamente tudo em termos de indústria, produção e comércio em Equador depende em grande parte dele. Com certeza um hábil empresário e figura de muita projeção mas de outro lado também claramente alguém que, embora quisesse fazer parecer o contrário, não visa outra coisa que fortificar ainda mais a posição e aumentar a própria riqueza e a de seus partidários. O segundo, Correa, é um homem de procedência mediana, que com muito esforço e sacrifícios de si mesmo e de sua família subiu na vida. Ele se formou em economia na Universidade de Louvaina na Bélgica aonde também conheceu sua esposa. Tornou-se professor de economia na Faculdade Salesiana de Guayaquil e foi ministro de Finanças num governo anterior. Em termos políticos é socialista e com seu partido “Aliança País” quer realizar uma profunda reforma no país tanto na área política como social e para começar propõe a convocação de uma Assembleia Constituinte para assim abrir o caminho para as pretendidas melhoras a favor do povo e principalmente dos pobres e menos favorecidos.
O período entre o primeiro pleito e o segundo foi de muitas tensões e nervosismo com as costumeiras campanhas dos dois partidos e seus candidatos. Inicialmente tudo indicava uma vitória fácil de Noboa e seus comparsas, uma vez que tinha obtido grande vantagem no primeiro turno e também pelos enormes recursos financeiros e a influência nas mídias. O povo, assim se temia, se tornaria uma vítima fácil de suas práticas de corrupção e dos seus discursos demagógicos, mas gradativamente começou a crescer o apoio a Correa, principalmente no meio estudantil, mas fortemente também na parte indígena da população, e quão grande não foi nossa surpresa quando no dia decisivo o resultado das urnas o proclamou presidente para os próximos quatro anos. Alcançou uma bonita maioria com 56% dos votos. Agora já tomou posse, apresentou seu programa de governo num discurso realmente brilhante e no seu primeiro dia já decretou um Referendum popular para o próximo dia 18 de março para que o povo se manifeste a respeito da pretendida Assembleia Constituinte. Deste modo abrem-se grandes perspectivas no campo político e social e com todo o país esperamos uma nova primavera.
Num terceiro momento tivemos durante as últimas semanas na igreja e na pastoral um tempo muito interessante também. Tempo de Advento e de Natal com uma vivência popular marcada com muitas tradições e manifestações folclóricas, mas também pela vivência de uma religiosidade simples e ao mesmo tempo profunda, principalmente na sua dimensão comunitária. Tudo começou nos meados de dezembro quando se iniciaram as novenas. As famílias, vizinhanças, comunidades, escolas, creches, fábricas, bancos e escritórios se reúnem para fazer a novena que ao final se encerra com uma missa em louvor ao Menino Jesus seguida por bonita confraternização onde as crianças estão no centro, ganham brinquedos e balas. E assim de uma forma bem interessante unem-se o bonito gesto de presentear principalmente as crianças e a festa do Natal. Papai Noel existe também, mas é mais coisa das lojas e do comércio. Nesta prática tradicional e popular o Menino-Deus continua claramente o centro da festa e em seguida em primeiro lugar as crianças. A dimensão religiosa é preservada e o comunitário encontra uma expressão muito feliz. Nesta ocasião os mais ricos (através do sistema de “priostes”/ benfeitores) partilham das suas riquezas com os pequenos e menos favorecidos. A tal de “Misa del Nino” que pede em todo lugar deve ser bem entendido. Para o povo simples toda e qualquer reza é “missa”, contanto que o “padre” (sacerdote, diácono, religioso etc.) se torne presente e faça alguma oração e principalmente benza com muita água benta a imagem do Menino Jesus e as crianças principalmente, e todos ficam imensamente felizes quando também eles, nesta ocasião, podem ser por um momento de novo crianças. Como exemplo: fui rezar uma “missa” numa creche. Quando cheguei o “prioste” já estava distribuindo brinquedos e doces porque isso naturalmente interessa em primeiro lugar! Estava preparada uma mesa com a imagem, umas velas e um vaso de flores. Pus solenemente minha roupa de “padrecito”, acendemos, com muita atenção de todos, as velas. Fizemos o sinal da Cruz e em seguida rezamos com a ajuda das professorinhas e das mães presentes, um Pai Nosso e uma Ave Maria. Depois com muita água benta, benzi o Menino Jesus. Depois chamei todas as criancinhas para bem perto do altar para uma bênção especial para eles, muita água sobre eles de novo. Apagamos as velinhas e pronto. Uma missinha muito linda!! Todos muito felizes e contentes! E depois aquela festa para todos …comida, bebida, bolo e doces para todos, as crianças, as professorinhas, as mães, irmãos etc. etc. e até para o “padrecito”!
Estas festividades de “Partilha fraterna” se prolongam até o dia dos Santos Reis ou Epifania. Esta festa com a qual se encerra o tempo natalino, se prepara através de uma grande novena, desta vez com a participação de toda a comunidade. No dia mesmo dos Santos Reis cada comunidade ou vizinhança com sua imagem do Menino Jesus se dirige em procissão (uma procissão formada por grupos folclóricos, a banda e toda sorte de reis com os seus séquitos) a um ponto de concentração e de lá, depois de o padre ter incensado efusivamente todas as imagens do Menino, todos caminham em uma marcha festiva até a igreja para a Missa. Depois da Missa uma grande festa de confraternização com comida e bebida de graça para todo o povo. Os “priostes” para o próximo ano já são nomeados ao final da Missa, assim terão um ano inteiro para preparar tudo para esta grande festa. Esta festa é muito famosa no centro de Riobamba, mas mais tradicional e igualmente muito grande na nossa paróquia de Lican. A paróquia de Lican foi fundada em 1694 e tem uma tradição mais antiga que a própria cidade de Riobamba. Isto se explica pelo fato que depois do grande terremoto de 1797 que simplesmente arrasou a cidade do mapa, resolveu-se reconstruir a cidade num lugar mais seguro, a saber uns 20 quilômetros mais ao norte na planície de Lican.
Agora toda esta festa acabou, ao menos em âmbito oficial da Igreja, porque o povo continua brincando com o seu Rei até o Carnaval e o mesmo se torna então Rei Carnaval acompanhado de todos os abusos de bebedeiras etc. amplamente conhecidos por todos. Por isso o bispo proibiu todas as “Misas del Nino” após a oitava de Reis.
Assim entramos de novo no sério e estamos liturgicamente no “tempo ordinário”, voltamos à vida de todos os dias. E neste tempo não teremos mais a ajuda para trazer os recados nem a Maria nem a José. Tampouco para anunciar o nascimento do Salvador ou para nos dizer que é preciso voltar por outro caminho para casa com aconteceu com os Reis Magos. Também não teremos mais uma estrela para nos guiar.
A única dica que nos sobra é aquela dada por Nossa Senhora nas bodas de Cana: “Façam tudo o que ele lhes pedir!”
Um Menino nos foi dado… o Reino por ele inaugurado, a nós confiado! A cada um (uma) de nós, anunciar a Boa Nova, mostrar o caminho e transformar a água em vinho!
Desejo a todos(as) boa missão e um ano novo cheio de felicidades e bons frutos!
Pe. Pedro Wouters