“Discípulos e missionários para que Venha teu Reino”, realizamos a CAFAL 2007 em Mendoza – Argentina entre os dias 06 e 13 de janeiro, na tentativa de identificar o que nos une nesta grande família e assim buscarmos um caminho comum na Assunção latino-americana. Éramos 8 cafalistas: Aníbal Patricio Londo Usca, (Equador), Roberto Astorga e Jorge Rojas (Chile), Delimiro Jaime Pacheco (Colômbia), João Gomes, José Carlos da Silva, Luiz Antônio Quirino e Célio Firmo (Brasil), acompanhados pelo Padre Tomás González, Padre Martín Nace, Diácono Bolívar Paluku e Irmão Claudio Farias.
O primeiro momento marcante foi quando, de modo descontraído e espontâneo, nos reunimos para partilhar nossas experiências, especialmente falando sobre a passagem do noviciado à comunidade de formação seguida pela introdução aos estudos de teologia. Com este exercício de escuta e de solidariedade, nos reconhecemos parte de um processo, de mudanças, de crises, de questionamentos e dúvidas, como também de crescimento humano e espiritual, de fraternidade e aprofundamento no nosso jeito próprio de ser “assuncionista”.
Tivemos a ocasião de ouvir a exposição, realizada pelo Padre Julio Navarro, dos pontos essenciais do Capítulo Geral 2005. Inquietando-nos com a pergunta feita pelo Superior Geral “Por que Deus quer que a Assunção exista hoje?” nos falava do aprofundamento que se busca, através da identificação do que nos constitui como assuncionistas, dos desafios do mundo atual, da Igreja e da Assunção, a fim de elaborar uma resposta em forma de projeto que seja significativa e contundente, coerente com o Evangelho e com o nosso carisma.
Depois de apresentar as orientações fundamentais, os eixos apostólicos e as prioridades assumidas pelo Capítulo Geral, o Padre Julio, dando continuidade à pergunta anterior, nos despertou por questionamentos que partiam de nossa realidade:
– Que significa ser assuncionista latino-americano hoje?
– Como queremos viver nossa identidade assuncionista?
– Que projetos temos para e na Assunção do Equador, do Brasil, do Chile e da Colômbia?
– Quais as conversões que nos são necessárias?
Providencialmente, acontecia naqueles dias a missão assuncionista em Mendoza. Por isso, nos integramos a um bom número de leigos, amigos da Assunção, da mesma localidade, de Buenos Aires e do Chile, para visitarmos as famílias e tomarmos contato com a realidade marcada singularmente pela pobreza e pela vivência de fé num contexto de muitas devoções particulares.
O tema da missão era “Deus é Amor! Deus é Família!”. Ora, o espírito familiar presente na Assunção nos abriu a possibilidade de, por um lado, experimentar com maior intensidade nossos laços fraternos, valorizando a riqueza da internacionalidade e das diferentes culturas, e por outro, testemunharmos o nosso jeito de fazer apostolado: comunitário e em parceria com os leigos engajados.
Isto motivou o aprofundamento do processo formativo que realizamos quando nos foi apresentado pelo Padre Julio Navarro os aspectos fundamentais da nova Ratio Institutionis. Esclarecidos os objetivos de todas as etapas da formação e os meios dispostos pela Congregação para realizá-los, fomos conduzidos ao confronto pessoal conosco mesmos e com a vontade de Deus em nossas vidas, a partir de algumas instigantes perguntas: Para quê estamos nos formando na Assunção? O que é o essencial para mim neste momento da minha formação? Que mudança necessito realizar? Dentre tantos pontos assinalados, destaco os que receberam maior atenção, a saber, a integração do projeto pessoal com o projeto de Província ou de Congregação, a integração da comunidade apostólica com o apostolado comunitário e como ser homens de fé e de nosso tempo.
“Que todos sejam um, Pai, como Tu estás em mim e eu em Ti, para que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17,21). Este desejo nitidamente expresso na oração sacerdotal de Jesus abriu as portas do nosso coração na manhã do dia 10, o quinto dia do evento. Era o início de um encontro promissor entre leigos e religiosos da CAFAL, mas também o prolongamento de uma busca comum de identidade assuncionista, sobretudo a partir dos anos posteriores ao Concílio Vaticano II. Recentemente, no Capítulo Geral 2005, o projeto ALIANÇA RELIGIOSOS-LEIGOS surgiu como tentativa de resposta concreta, como um sinal evidente do querer de Deus para a Assunção no mundo inteiro. Na verdade, muitas têm sido as experiências de colaboração entre religiosos e leigos nos lugares onde estamos presentes, mas de modo bastante tímido. A novidade do Capítulo está na consciência renovada pela Congregação de que desde a época do fundador, a Assunção não é uma obra isolada, e sim um carisma a serviço da Igreja. Ela sempre esteve aberta, através dos tempos, e faz parte da identidade de muitas pessoas e comunidades que comungam conosco a paixão pelo Reino, o espírito de família, de iniciativa e de desprendimento.
Para ajudar nessa reflexão, o Padre Julio Navarro nos apresentou a longa trajetória para se chegar à ALIANÇA e algumas propostas de formação comum. A partir disso, em pequenos grupos, partilhamos experiências e pontuamos alguns possíveis encaminhamentos para o futuro próximo. Ademais, contamos com a exposição sintética dos trabalhos que vem sendo desenvolvidos em corresponsabilidade entre religiosos e leigos no Chile, no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no Equador.
“Quando dou de comer aos pobres, me chamam santo; quando digo porque eles passam fome, me chamam comunista”. Esta célebre frase do saudoso Dom Helder Câmara nos introduziu a uma reflexão crítica sobre a realidade eclesial no continente, sobretudo quanto à sua recepção criativa do Concílio Vaticano II, configurando um novo momento histórico para a Igreja na América Latina. Para tanto, contamos com a ajuda de dois presbíteros diocesanos de Mendoza – Vicente Real e Carlos García – que nos auxiliaram no aprofundamento da Doutrina Social da Igreja e da opção preferencial pelos pobres. Com isto, ficou claro que a Teologia da Libertação, embora com notáveis antecedentes, recebeu grande impulso depois da realização do Concílio. Segundo a opinião de alguns teólogos, havia chegado o momento da libertação da Teologia.
Não podemos negar que nos últimos anos tem-se verificado um grande retrocesso na Igreja e uma volta a questões disciplinares. Muitos teólogos foram calados, muitos leigos foram colocados de lado, e desapareceram as figuras proféticas, como a de Mons. Oscar Romero, arcebispo de El Salvador. Diante desta realidade, nosso desafio está precisamente em não perder de vista as conquistas que já alcançamos e buscar novas formas de ser Igreja, cada vez mais fiéis ao Evangelho e que fale aos dias atuais.
Foi nesta perspectiva que seguimos partilhando. Acreditamos que na opção preferencial pelos pobres está a credibilidade da Igreja e a razão de ser do seguimento de Jesus Cristo na Vida Religiosa Consagrada. Viver tal opção significa fazermos uma ruptura com o status quo, assumindo a conflitividade que isto implica a partir de uma presença, encarnada e comprometida, na realidade onde a dignidade da pessoa humana se encontra ameaçada. Em última instância, assumir o próprio destino de Jesus, que venceu a pobreza maior, a morte, e por isso vive no meio de nós.
Um dos últimos momentos em pauta foi o da conferência realizada por Ricardo Pablete, padre diocesano de Mendoza, sobre A crise moral na atualidade e os desafios para a Vida Consagrada. Avaliar aspectos morais, culturais e teológicos, nos rendeu um bom tempo de discussão e partilha, ademais de esclarecimentos sobre três aspectos fundamentais da moral: lei, liberdade e consciência.
Finalmente, recordo o momento eucarístico que celebramos juntos na festa da Epifania do Senhor. Nas tensões da história, na pobreza de Belém e perseguido pelo poder opressor da época, encontramos o Redentor da humanidade. Aquele que se manifesta como a luz que ilumina as nossas trevas, a paz que silencia o nosso coração, a esperança que a todos nos congrega. Semelhante aos reis magos, todos fomos convidados a reconhecer o Deus da Vida, a oferecer-lhe tudo o que somos e temos, e a voltarmos por outro caminho, fazendo da CAFAL um momento decisivo, criativo e novo, em nossa história pessoal e na Assunção. “Venha a nós o teu Reino”.
Ir. João Gomes