“Quem é este, que até os ventos e o mar obedecem?” Mt 8, 14.
Pe. Marco Aurélio*
Assim como Jesus e os discípulos na barca naquele dia, estamos atravessando uma tempestade. O barco da vida tem sido agitado pelo vento forte e as ondas do mar. Por todos os lados, sentimentos diversos se misturam: há preocupação e medo, incertezas e angústias, mas, também, empatia e compaixão, alegrias e esperanças que fortalecem a nau em sua travessia sobre as águas agitadas.
Tais sentimentos estão presentes na vida cotidiana de nossa Comunidade Assuncionista Santa Mônica, em Campinas, composta pelo postulante Guilherme Franzini, pelo juniorista Irmão Yan Pires, pelo Pe. Célio Firmo e por mim.
Dedicada a uma das etapas da formação dos jovens vocacionados e ao cuidado pastoral da Paróquia São Judas Tadeu, nossa comunidade tem encontrado na oração, no estudo, nos trabalhos pastorais on line, nos diálogos fraternos e até nas refeições o estímulo e as disposições para assimilação e significação de tudo o que estamos vivendo como família humana, como Igreja e como filhos de Deus.
“Este tempo que estamos vivendo tem sido um grande desafio, porém tem me ensinado a confiar cada dia mais no Senhor”, afirma o jovem Guilherme. “Este período tem sido um tempo de repensar o sentido, o valor que dou a vida, além de depositar minha esperança no Senhor”, conta o Irmão Yan. “Confio em ti, ó Deus de amor e ternura! Acalma o meu interior com tua presença”, reza o Pe. Célio.
Em tempos de isolamento, nosso ritmo diário mudou pouco dentro da casa religiosa. Nossos dias têm sido bem dinâmicos: a oração da liturgia das Horas, a recitação do Terço, a Santa Missa, as aulas de filosofia da PUC por videoconferência, encontros de formação específica, trabalhos de manutenção e limpeza da casa, preparação dos alimentos, a lavagem de roupas, o cuidado com os jardins e a horta… enfim, a quarentena tem sido sinônimo de vida, fraternidade e busca de Deus.
Com um acelerado aumento no número de infectados pela Covid-19 em Campinas, estamos todos sob quarentena. Desde o dia 14 de março, os trabalhos pastorais foram suspensos. As 13 comunidades que compõem a Paróquia São Judas Tadeu deixaram de se reunir para as Missas, catequeses e outros trabalhos, interrompendo um belo processo de reflexão pastoral que vinha sendo realizado para a construção do Plano Pastoral Paroquial nos próximos anos.
Desde então, o mundo virtual se tomou mais real, sendo instrumento privilegiado para manter os vínculos, fortalecer a comunhão eclesial e a fé do nosso povo em tempos de distanciamento social. Grupos de oração, reuniões pastorais, lives musicais, catequeses, Missas transmitidas ao vivo foram formas encontradas para movimentar a vida paroquial pela internet. Paralelamente, um belo e necessário trabalho social tem sido desenvolvido pelas comunidades no recolhimento e distribuição de alimentos e roupas para os irmãos necessitados, que somam mais de 500 famílias cadastradas em nossa Paróquia.
Dessa forma, seguimos navegando. Atentos aos cuidados para com a saúde física, psíquica e espiritual, e animados com a certeza de que chegaremos ao porto seguro, vamos atravessando a tempestade.
Conforta e fortalece o coração saber que o Senhor também está no barco, e que sua Divina Presença é garantia de que a nau jamais afundará, por mais assustadora que seja a tormenta. A convicção de que o Senhor está presente nos faz experimentar algo daquela calmaria sentida pelos Apóstolos no momento em que as forças da natureza foram silenciadas.
Nossa comunidade assuncionista segue, junto com nosso povo, navegando com Cristo em direção ao porto seguro. Se o barulho das ondas do mar e a força dos ventos ainda nos fazem tremer, a certeza da Presença de Cristo nos leva à confiança serena. Ao final da jornada, maravilhados, também exclamaremos: “louvado seja Aquele que ali os ventos e o mar obedecem!”
“Senhor, dai-me a inteligência das coisas divinas, e a ciência das coisas da vida, a fim de que, à luz da fé, e em quanto me seja possível, eu compreenda o que devo crer, e pratique o que devo fazer.” Pe. E. D’ALZON