Pe. João Gomes aa
A pandemia do novo coronavírus, que tem vitimado milhares e milhares de pessoas mundo afora e abalado o sistema econômico global, vai repercutindo em todos os cenários da nossa vida, nos obrigando a buscar novos arranjos no cotidiano e mesmo compreensões mais flexíveis do existir humano. E as reais dimensões e conclusões mais arejadas deste fenômeno, sabemos, ainda estão longe de serem imaginadas.
Na cidade de Espírito Santo do Pinhal (SP) nós assuncionistas estamos presentes há décadas. Temos aqui a comunidade de formação do noviciado inserida relativamente fora do perímetro urbano e, isto, em tempos de isolamento social obrigatório conta muito positivo. Não sentimos tanto O seu impacto, e seguimos nosso ritmo e nossas atividades, normalmente.
Em todo caso, tivemos que rever e refazer um pouco o então previsto para a experiência do noviciado em 2020. Esta etapa formativa, como sabemos, introduz canonicamente os candidatos à Vida Religiosa Consagrada na Igreja. E, pois, um tempo especial de discernimento, de convivência, de oração pessoal e comunitária, onde os noviços se exercitam espiritualmente para uma resposta vocacional mais generosa e livre nos “compassos” do carisma e da espiritualidade próprios do Instituto.
Mas, no contexto do estado de calamidade na saúde pública, nestes meses intensificamos ainda mais a nossa vida de oração, pois, os corações se inquietam muito mais e numerosas pessoas se confiam às orações da comunidade. É fato, as muitas perguntas que nos emergem em todos a partir dessa e outras tantas pandemias não encontram respostas imediatas, no entanto, na oração assídua e confiante, tais interrogações se organizam, se equilibram e se orientam para o essencial. Deste modo, vamos educando-nos melhor para a escuta amorosa da Palavra de Deus, discernindo palavras e gestos significativos, simples e densos de esperança cristã.
A comunidade assuncionista também é responsável pelo trabalho pastoral e administrativo da Paróquia São João Batista, a segunda dentre as cinco existentes na cidade. Pessoalmente, ademais da marcha do noviciado, sou o primeiro responsável neste apostolado. Atualmente, devido ao Decreto Diocesano emitido pelo bispado, não vem sendo realizada nenhuma atividade pastoral ou litúrgica que exija aglomeração. O trabalho administrativo prossegue, enfrentando as dificuldades econômicas advindas da ausência de fiéis, da inexistência das coletas e a contração das contribuições do dízimo. Com a ajuda do Conselho Paroquial Econômico e Administrativo e de alguns voluntários, estamos buscando vias alternativas para angariar os recursos necessários e deste modo honrar nossos compromissos de funcionamento e manutenção das estruturas.
Dentre as medidas possíveis e aprovadas pelas autoridades políticas e eclesiásticas, a administração paroquial procurou reduzir a jornada de trabalho de todos os funcionários, inscrevendo-os na medida provisória de auxílio por redução salarial oferecida pelo governo da federação. Deste modo, procura-se salvaguardar o emprego a quem necessita, facilitando, concomitantemente, a gestão econômica da Paróquia em tempos de isolamento social.
Com este rearranjo administrativo, a comunidade do noviciado foi diretamente atingida no seu funcionamento, já que, nela, uma funcionária exerce o seu trabalho de serviços gerais na “residência do pároco”. A outra funcionária, na verdade uma diarista, foi dispensada da prestação de serviços, e o inquilino também teve sua jornada reduzida. A solução então foi implicar os noviços e nós padres mais jovens na preparação das refeições e no asseio geral de todas as dependências da casa, deixando a única funcionária em exercício a cargo apenas da lavanderia.
As atividades de acompanhamento e formação, típicas do programa do noviciado, foram melhor distribuídas entre os religiosos durante o Capítulo Local da comunidade, antes da Páscoa. Naqueles dias, a comunidade refletiu todas as dimensões da sua vida, planejou suas atividades internas e externas e precisou melhor as funções e responsabilidades de todos e de cada um, a fim de responder adequadamente às exigências da sua missão apostólica. E, verdade que boa parte das resoluções serão implementadas somente após a superação da pandemia, especialmente, nos campos diversos do apostolado paroquial.
Um meio muito concreto encontrado pela comunidade, para colaborar com a diminuição de gastos e ter um melhor aproveitamento de espaços oferecidos pela enorme propriedade que abriga a nossa residência, foi a realização de trabalhos manuais na horta, no pomar e nos jardins. Com o apoio de amigos e ex-alunos do Seminário, a criatividade vai surgindo a cada dia. Ultimamente, já estamos comendo algumas verduras, frutas e legumes provenientes desta iniciativa comunitária e mesmo algumas contribuições foram possíveis a famílias carentes do bairro vizinho.
Como nos recorda o Pe. Emmanuel d’Alzon, nosso venerável fundador, o trabalho do assuncionista deverá ser realizado “com grande esforço e espírito sobrenatural” (ES, p. 102). Nos resta, pois, suplicar-lhe que o seu espírito audaz e criativo continue a nos inspirar e a sua santidade comprovada nos favoreça na luta contra o coronavírus, bem como, em outras pandemias que acometem a nossa humanidade.
*Mestre de noviços e administrador paroquial.