Na véspera do Natal de 1850, nasceu a Congregação dos Agostinianos da Assunção. Naquela noite, Emmanuel d’Alzon, juntamente com um pequeno grupo de homens generosos (os primeiros assuncionistas), pronunciaram seus primeiros votos religiosos, lançando assim esta nova congregação. A seguinte “entrevista” imaginária com o Pe. d’Alzon apareceu na edição mensal do Eco de Lourdes, jornal assuncionista chileno.
Autores: Pe. Miguel Fuentealba aa e Ir. Ramón Gutierre aa
Pe. d’Alzon, o que você diria ser a base do seu trabalho na congregação que fundou?
O fundamento do meu trabalho é Jesus Cristo. Tudo pode ser encontrado nEle. Deve-se olhar para Ele apenas e dedicar tudo a Ele, anunciar e pregá-Lo somente. Devemos ensinar o que Ele ensinou e viver como Ele o fez; devemos sempre imitar Aquele que é o Cristo, o Filho do Deus vivo.
O que diria hoje aos jovens que têm medo de assumir compromissos de longo prazo, seja no casamento, na vida religiosa ou na vida pública?
Não tenham medo de se elevarem até as alturas como uma águia. Não temam expandir seus horizontes para verem em toda parte. Que não sejam como avestruzes que enterram suas cabeças na areia ao primeiro sinal de perigo. Isso não é senão uma evasão de compromisso, um escape, mesmo que alguns possam chamar de prudência.
Pe. d’Alzon, sua resposta não é muito dura?
De jeito nenhum! Somente aquele que tem um espírito aberto, que vê ao longe, pode se entregar completamente aos grandes ideais. Aqueles que se conformam com uma visão estreita não são capazes de comprometer-se com nada e com ninguém e nem abraçar o que quiserem como seu ideal.
Muitos cristãos têm dificuldade em orar. O que o senhor acha?
Rezar não é fácil para ninguém. A oração é uma verdadeira luta com nós mesmos. Mas o problema não é se a oração em si é fácil ou não. O verdadeiro problema para um cristão é se ele reza ou não. Deve-se ser firme em enfrentar tudo o que pode nos desviar, todas as dificuldades e todas as distrações que ocorrem quando é hora de rezar. Para fazer isso, é preciso colocar-se sob a ação do Espírito Santo que habita nos nossos corações. Não se preocupe se você está orando bem ou não. Caso contrário, nossa oração diminuirá, pois nós nunca estaremos satisfeitos com a qualidade de nossa vida de oração. A oração é a única maneira de sermos preenchidos, impregnados, com o espírito de Deus.
Padre, suas palavras estão cheias de paixão, claras e fortes. Como chegou a este ponto?
Para ser cristão deve-se seguir a Jesus Cristo, realmente amá-Lo. Isso significa que todos os sentimentos do meu coração e tudo o que eu sou e posso tornar-me, devem se concentrar em Jesus Cristo; ou melhor ainda, somos chamados a colocar os próprios sentimentos, a própria mente de Jesus Cristo, para citar São Paulo.
O que você acabou de dizer é algo a ser aprendido e leva tempo; é uma maneira a se seguir. Como é que acontece?
O caminho é Jesus Cristo. Devemos acreditar em Deus e em Jesus Cristo. A fé é um processo, a maneira pela qual nós permitimos que Ele seja formado em nós (como diz São Paulo: “Até que Cristo seja formado em você”). Para fazer isso, devemos conhecê-Lo e somos chamados a torná-Lo conhecido pelo nosso próprio exemplo. Na medida em que os catequistas e os pregadores não assumem essa responsabilidade, Jesus Cristo permanecerá desconhecido.
Pe. d’Alzon, muitos católicos hoje só participam da Missa dominical e só vêm à Igreja para funerais, casamentos ou outros grandes eventos. O que você acha?
Não fico escandalizado por isso. Mesmo nos meus dias, isso estava acontecendo. No final, é uma questão de amor. A Eucaristia é o alimento que nos capacita para amar porque é aí que encontramos Jesus Cristo, o objeto de nosso amor, que se entrega a nós completamente e nos ensina a nos dar também a Ele e aos outros no serviço da Igreja. Na Eucaristia, ocorre uma união tremendamente misteriosa entre o homem e Jesus Cristo. Como pode-se amar Jesus Cristo se eu não o buscar no sacramento de seu amor? Sempre que celebramos a Missa, retomamos o trabalho de nossa redenção.
Já que estamos falando da redenção, a Santíssima Virgem tem alguma relação com a Eucaristia?
(Muito surpreso com a nossa ignorância, ele respondeu) Quando vamos à Missa, nos colocamos lado a lado com a Santíssima Virgem, que nos mostra como nos entregar completamente a seu Filho que não veio para ser servido, mas para servir e dar a si mesmo como resgate pelo mundo, o ato mais profundo e irrepetível de amor redentor que o mundo já conheceu.
Por favor, uma última pergunta. Dada a grave crise financeira que existe no mundo, o que devemos fazer pelos pobres?
A verdadeira maneira de alcançar o menor dos meus irmãos, os pobres e os marginalizados em geral, é o amor. Dar esmolas não é suficiente. Quando um empregador, por exemplo, aborda um empregado não com presentes monetários, mas de uma forma verdadeiramente inspirada pelo amor, não só a produção e a moral aumentam, mas ocorre uma reconciliação real entre eles. Esmola nunca satisfará a justa raiva dos pobres. A evangelização do mundo deve começar pelos pobres e marginalizados.
(fonte: http://www.assumption.us/about-us/assumptionists/dalzon/880-an-interview-with-fr-dalzon-aa)