Pe. Emmanuel Kahindo Kihugho

1854 — Há quase cinco anos Emmanuel d’Alzon é religioso, mas há cerca de dez anos ele vive a experiência da vida religiosa comunitária. Durante todo esse tempo, sua vida é dividida entre a Igreja, o ensino e sua nova família religiosa, a Assunção. Por outro lado, ela está marcada pela fundação de várias obras em diversas áreas. Sua fama se espalha por toda parte. a ponto de ele ser nomeado em 1850 para o Conselho Superior da Instrução Pública da França, além de ser requisitado para ser bispo cm duas ocasiões, em 1848 e 1854. Mas há também o reverso da medalha.

Fisicamente, esses anos de trabalho intenso são também marcados pelo acúmulo de grandes fadigas, de estafa e de nevralgias crônicas. Além desses sofrimentos físicos, d’Alzon está cheio de dívidas, contraídas para manter seus religiosos e para fazer funcionar suas obras. Tem tantas dívidas, que vê o fim de sua obra aparecer no horizonte. Além disso, o número de religiosos que perseveram não é alentador. No dia 25 de dezembro de 1851, por exemplo, data da primeira profissão perpétua na história da Assunção, a Congregação conta com menos de dez religiosos, dos quais quatro são perpétuos: os Padres Emmanuel d’Alzon e Brun e os Irmãos Saugrain e Pemer. Nesse ritmo, o futuro da Congregação não está garantido.

No dia 19 de maio de 1854, o excesso de trabalho, a privação de sono, as preocupações e o excesso de zelo provocam-lhe uma congestão cerebral com paraplegia que vai chegar ao ponto máximo no dia seguinte. É o início de uma longa via-sacra, tanto física quanto moral, intelectual e até espiritual que vai perdurar mais de três anos. Essa cruz o obriga, a contragosto e por várias vezes, ao repouso e, finalmente, à renúncia à direção de seu colégio em outubro de 1855. Como se isso não bastasse, enquanto ele enfrenta os sofrimentos físicos, uma outra provação vem atingi-lo. Com recursos escassos e grandes dividas, algumas de suas obras têm que ser vendidas. Tal foi a decisão de sua família, que não pode mais continuar a sustentá-lo. Diante de todos esses sofrimentos e fracassos, ei-lo, em 1857, quase como o seu Mestre no Monte das Oliveiras. Vários de seus amigos, bem-intencionados, chegam a lhe pedir para separar-se de seus religiosos e sacrificar sua pequena congregação.

… Mas também um tempo de conversão e de ascensão
Homem de seu tempo, durante a longa via-sacra, d’Alzon busca os recursos da Medicina da época, as águas termais. Mencionamos de um modo particular as de Lamalou, um lugar que pode ser considerado como o Monte Sinai dos assuncionistas ou, para retomar a palavra de Jean-Paul Périer-Muzet, “um alto lugar de espiritualidade dalzoniana”, onde foram escritos textos maiores, notadamente “O amigo de todos os dias” e o “Diretório”.

Diante de todos esses sofrimentos e fracassos, ei-lo, em 1857, quase como o seu Mestre no Monte das Oliveiras. Vários de seus amigos, bem-intencionados, chegam a lhe pedir para separar-se de seus religiosos e sacrificar sua pequena congregação.

Mas é sobretudo na fé inabalável em Deus que d’Alzon vai renascer. Mais do que no passado, d’Alzon manifesta-se como um homem de oração intensa e constante que abandona sua vida e seu futuro nas mãos de Deus. Longa via-sacra, portanto, mas ao final surge uma nova vida para ele e para toda a sua Congregação, uma vida imersa e enraizada em Deus, um caminho que Adrien Pépin qualificará de “ascensão espiritual de Emmanuel d’Alzon”. Com efeito, é nesse contexto de entrega que ele repetirá com São Paulo: “Para mim, viver é Cristo”(e morrer um lucro), e pedirá aos seus, por um lado, para fazerem o mesmo e, por outro, para verem na cruz “um confidente, um amigo de todos os dias”, como se pode ler na sua carta de 21 de junho de 1857 (Lettres. t. II, p. 266), escrita em Lamalou para as Adoradoras do Santíssimo, que acabaram de nascer em Pentecostes de 1857.

Ascensão espiritual para d’Alzon, mas também renascimento para o colégio e para a Congregação. Com efeito, se durante os anos que precederam essa longa via-sacra d’Alzon estava animadíssimo, ocupado com mil coisas a ponto de não ter tempo bastante para a sua Congregação, com a doença ele vai ocupar-se mais da vida de sua família religiosa: “O que Nosso Senhor me parece sobretudo pedir é que eu me retire de muitos negócios para ocupar-me de minha obra e deixe de lado o que não tem nada a ver com esta pobre obra.” E é durante esses momentos de aniquilamento e de ascensão espiritual que a espiritualidade da Congregação vai tomar consistência e vão ser redigidos as primeiras Constituições e o Diretório.

Quem nunca conheceu momentos de fraqueza e de derrota? Eis, portanto, um modelo de santidade que nos indica um caminho a seguir quando a noite se abate sobre nossos projetos e o amanhã nos parece incerto. Esse caminho é o abandono total em Deus, que nunca desampara quem põe nEle a sua fé (Eclo 2. 1-11).

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