Thiago Augusto da Silva, Noviço Assuncionista
O pequeno François da Bretanha
Nasci na França, na Bretanha, no dia 4 de setembro de 1931, em uma família pobre. Meu pai, Louis, era pedreiro, minha mãe se chamava Agnes Raute. Éramos seis irmãos. Ainda vivem hoje um irmão de quase 94 anos e uma irmã de 90.
Batizado no dia seguinte ao nascimento, deram-me o nome de François, provavelmente em lembrança de um tio, irmão de meu pai, religioso da Congregação dos Irmãos da Instrução Cristã, fundada pelo Venerável Jean-Marie Robert de Lamennais, irmão de Félicité de Lammenais, com quem Pe. d’Alzon esteve em contato. Logo depois da sua profissão religiosa, esse tio foi mandado ao Haiti, onde morreu da febre amarela poucos meses depois de sua chegada (1903).
Aos 6 ou 7 anos, fui para a escola, dirigida por estes mesmos irmãos de Lamennais, chamados também Irmãos de Ploermel. Ali, fiz meus estudos primários. Juntamente com os estudos profanos, a educação religiosa era completada na minha paróquia de origem, Languidic.
Eis que surge a vocação…
Foi nessa mesma escola que nasceu minha vocação. Visitava todos os anos a escola um Irmão que nos falava de vocação. No fim de sua palestra, ele pedia que cada um escrevesse num bilhete o que desejava fazer mais tarde. E eu escrevi: “Quero ser padre”. Pouco tempo depois um dos padres da paróquia me chamou e falou acerca do seminário. Assim, aos 12 anos, entrei no seminário menor de Sancte Anne d’Auray. Sem ter grande noção do que podia ser vocação.
Passados quatro anos, perdi a vontade de continuar na comunidade. Mas, durante as férias de 1947, um vizinho, já no seminário maior diocesano, conseguiu me reanimar. Ele era antigo aluno do seminário menor dos Assuncionistas, ele me dirigiu para a Assunção.
No fim dos estudos clássicos, havia um retiro, chamado “retiro de eleição”, ao fim do qual cada um manifestava sua escolha: a própria Assunção, uma outra congregação ou o clero secular. Escolhi a Assunção e entrei no noviciado em agosto de 1950, junto com uns 20 colegas.
Na época, o Noviciado era mais fechado; cursos próprios, vida de oração, vida litúrgica, trabalhos manuais. Uma vez por mês havia um passeio, geralmente a pé. Havia, também, peregrinações a centros marianos.
Os meus Primeiros Votos foram professados em 23 de setembro de 1951. Logo depois, entrei no escolaticado de Layrac para dois anos de estudos de Filosofa.
O serviço militar obrigatório
Como na França o serviço militar era obrigatório, inclusive para os seminaristas, fui chamado a servir em agosto de 1953. Liberado em janeiro de 1955, voltei para o seminário depois de ter passado o fim do ano letivo no Colégio de Agen.
O início da Teologia foi em setembro de 1955. Apenas começado o segundo semestre, tive de novo que vestir a farda e passar uma temporada na Argélia, no Norte da África.
Em dezembro de 1956, retornava para continuar os estudos e para a recepção dos ministérios: subdiaconato, diaconato e presbiterato.
Tu és sacerdote eternamente…
No dia 23 de maio de 1959, recebi a ordenação sacerdotal junto com outros colegas. Tive a alegria da presença de minha mãe neste grande dia. Meu pai havia falecido enquanto eu estava na Argélia. Dois dias depois, fomos a Lourdes recomendar o nosso sacerdócio à Nossa Senhora.
A primeira Missa Solene foi na minha paróquia de origem, no dia 3 de agosto de 1959, assistido pelo padre que me havia dirigido para a Assunção, e tendo como pregador o padre que me tinha mandado para o seminário.
Uma vida doada nesta terra de Santa Cruz
O primeiro ano de sacerdócio foi dedicado a um estágio de pastoral, em Lyon. Já estava me preparando para minha vinda para o Brasil. Em 23 de novembro de 1960 desembarcava no Rio de Janeiro (RJ). A capital do Brasil acabara de ser transferida para Brasília. A Assunção francesa tinha só duas comunidades: no Rio e em Eugenópolis (MG). O fundador da missão no Brasil, Pe. Cherubin, ainda estava vivo.
Depois de ter conseguido a papelada para permanecer no Brasil, fui transferido para a comunidade de Eugenópolis. Chegando lá em dezembro, deveria me preparar para ser “professor” no “Admissão”, já no mês de março. Para a celebração das Missas, nenhum problema, já que tudo era em latim. Pouco a pouco fui me entrosando.
Quatro anos de ensino e nova nomeação como ajudante do mestre de noviços no noviciado de Governador Portela (RJ) com uns 12 noviços. Após cinco anos e meio no Brasil, fui passar uma temporada na França.
Retornei para Eugenópolis, para terminar o ano letivo. Fui nomeado para o Rio de Janeiro, onde fez um ano no Instituto Superior de Pastoral Catequética (ISPAC). De novo voltei a Eugenópolis, consagrando uma parte de tempo ao serviço da paróquia.
Em março de 1969, fui nomeado pároco (na época se dizia “vigário”) de Eugenópolis, função que exerci até o início de 1990.
Depois do falecimento do Pe. Timóteo, em 1976, fiquei também responsável pela Paróquia de Patrocínio de Muriaé (MG). Deveria ser provisório, mas o provisório durou 14 anos, e mais três anos com o Pe. Paulinho Calas.
Em 1990, deixei Minas Gerais para uma temporada na Paróquia da Santíssima Trindade (RJ), onde fiquei três anos como vigário paroquial. Daí fui enviado a Campinas (SP) para acompanhar os jovens religiosos estudantes. Isso até 2002, quando voltei para Eugenópolis.
Em 2004, o provincial me mandou de volta para Campinas, para fazer companhia aos Padres José Madeira e José Jansen. E finalmente em 2010, vim para Espírito Santo do Pinhal (SP), onde estarei até “quando Deus quiser”.
Agradeço a Deus por tudo o que Ele fez por mim durante estes 60 anos. Agradeço pelo dom da fidelidade.
Sobre Pe. Francisco
“Nasci e cresci na Paróquia da Santíssima Trindade. São inúmeras as lembranças da minha infância, quando quase nada compreendia do que falavam mas me encantava com o que via. E uma que guardo muito viva em minha memória é a do Pe. François. Hoje o chamam de Francisco, mas para nós, os antigos, sempre François. Estava sempre pelo pátio buscando conversar, conhecer os paroquianos. Não negava atenção a quem quer que fosse, era só chegar no pátio… lá estava o Pe. François pronto para acolher com um olhar, uma palavra… Para nós, crianças, sempre tinha um sorriso, uma brincadeira e um afago na cabeça. Quantas vezes recebi este sorriso e este afago. Hoje, nos meus 53 anos, tenho viva na memória a presença de Deus que este homem trouxe à minha vida através de seu sorriso.” (Lucienne Leuname)
“Se alguém perguntasse: COMO NASCE UM SANTO, jamais poderíamos responder que surge de um ovo, ou do estalar dos dedos, ou de uma varinha de condão que, ao ser balançada, faz surgir alguma faísca mágica. Mas não! Estamos falando de um ‘alguém’ que possui um coração de ouro, que é uma bondade só, com uma saúde bastante abalada mas que nos parece ter algo dentro de si que nos lembra nossa infância com aquele grito mágico de ‘SHAZAN’, que fazia a transformação do homem comum numa super criatura.
Estamos falando de um homem arqueado pela idade e pela saúde, mas que sabe colocar-se em primeiro plano quando o assunto envolve AJUDAR! Falo sobre aquele idoso residente do Retiro de acolhida de nossos padres, em Espírito Santo do Pinhal. Todos nós, durante décadas, aqui na Santíssima, gozamos da sua companhia, da sua bondade, compreensão, dos excelentes e bons conselhos que sempre eram ofertados como semente da paz. Falo sobre um ‘homem santo’: PE. FRANCISCO, a quem ouso chamar de SANTO DOS NOSSOS DIAS!” (Ary Dias)
“Homem de fé profunda, completou em maio passado 60 anos dedicados ao engrandecimento do Reino.” (Ana Maria Bonniard)