Prezados irmãos na Assunção, queridos leigos e leigas da Aliança…
Estando em Madri, recentemente, tive a oportunidade de passar todo um dia no Museu do Prado. Entre tantos pintores de extraordinário engenho, um dos autores que mais aprecio é “El Greco”; cujas formas esguias e estilo expressivo e dramático me parecem particularmente agradáveis. Assim, além de visitar os incontornáveis El Bosco, Velázquez e Goya, eu desejava sobretudo ver “El Greco”. Foi, pois, de um modo muito especial que me detive diante desta Tela, “A adoração dos Pastores” (1612-1614). Muito provavelmente é a última obra de El Greco, que faleceria em 1614… A cena é simples e já foi representada por inúmeros gênios da pintura. Há algo, porém, que me chama atenção nesta tela e que, ao meu ver, a faz distinta de outras representações do Nascimento do Senhor; trata-se da intensa luminosidade que, expandindo do menino nu, a quem a Virgem desvela, se irradia por todo o espaço estreito onde se apinham as diferentes personagens. Todos aí têm sua missão, todos cumprem-na com igual reverência, desde a Santíssima Mãe de Deus, até o boi cujos chifres roçam a indefesa criança… E a missão da criança é a de iluminar as distintas missões de todas as demais figuras.
Mais uma vez é Natal e além de celebrarmos um dos mistérios mais fundamentais de nossa fé: a encarnação do Verbo de Deus, para nós assuncionistas também é a ocasião de celebramos o nascimento de nossa Congregação. Foi numa noite de Natal que o Padre d´Alzon começou seu noviciado, foi numa noite de Natal, 05 anos depois, que ele professou os primeiros votos, junto a seus 05 primeiros companheiros… Deus confirmava assim a nossa Congregação, depois de vários sobressaltos… Na simplicidade daquela noite o “sim” dos primeiros assuncionistas também foi iluminado pela beleza do Natal… A nós agora, cabe continuar a dizer “sim”, para que em nós a Palavra também se faça fecunda, e o Reino de Deus cresça, primeiro em nós, depois em nossa volta, pois ninguém pode partilhar o que não vive!
Que esta noite santa nos ajude a compreender que o amor precisa primeiro habitar em nós, o amor que habitou nossa carne precisa também habitar nosso “sim”, habitar a missão que Deus nos confiou… Só quando nos sentimos iluminados pelo comovente “abaixamento” de Deus podemos compreender que nossa primeira missão é acolher o Reino de Deus em nós, pela vida interior, para depois cultivá-lo com humildade em nossa volta, em nossas comunidades religiosas, em nossos obras apostólicas… Sem pretensões de transformar o que não podemos, queremos transformar a nós mesmos e ajudar a iluminar o nosso entorno, se o conseguirmos então nos saberemos no caminho certo… Que esta noite luminosa nos ensine a humildade, o despojamento e a ternura da mensagem cristã e que, reunidos na missão pelo Reino, possamos sentir que nossa vida também está sendo constantemente visitada pela Misericórdia de Deus. Senhor, que teu Reino venha!
FELIZ NATAL, BOAS FESTAS!
Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2024.
Pe. Marcos Antônio, a.a.
Superior Provincial