Nos vários autorretratos que Pe. d’Alzon nos deixou, podemos nos maravilhar com um certo número de traços permanentes de caráter ou personalidade. Um homem de honestidade desarmante, imbuído de uma retidão tão exigente que o levou a fazer julgamentos, às vezes, rápidos e severos, até de si mesmo.

Pe. d’Alzon sabia usar alertas, censuras e comentários, com ironia ou humor, ao mesmo tempo que sabia pedir perdão quando sentia que havia machucado alguém. Suas ações e seus julgamentos podem parecer às vezes muito categóricos ou muito imediatos; sabemos que ele não gostava de esperar ou de precisar repetir; a paciência não era seu ponto forte. Quanto aos aconselhamentos, tinham mais do que um tom voluntarioso, enérgico, indo além de si mesmo. (…)

No entanto, o homem que ele mostrava ser na direção espiritual, era notavelmente cheio de extraordinária prudência e delicadeza, tanto psicológicas quanto espirituais. Ele exercia uma espécie de superioridade natural, de autoridade e firmeza, muito provavelmente embasadas na sua formação advinda de sua origem, status e cultura. Mas havia, igualmente, um tipo de autodomínio forjado pelo Evangelho. Isso não o impedia de falar ou direcionar as pessoas de maneira “redonda”, uma palavra usada com frequência em seus escritos e que seus contemporâneos ouviram mais de uma vez em seus lábios.

A mansidão parecia estar fora de questão para ele; não usava termos brandos e, em seu vocabulário, encontramos uma linguagem pitoresca que, sem a dureza militar, possuía caráter e força bastante populares: “Bom Deus, que mentalidade; eu lhe dei um sacudir de ombro. Acabei de dar uma boa chicotada na língua. Minha opinião é que, se essa irmã não quiser ser tratada de maneira um pouco superficial, você deve se livrar dela”. Essas observações ou expressões um pouco descuidadas não tiram nada das qualidades do coração e da ternura de Pe. d’Alzon, abundantes em sua correspondência com aqueles que ele guiou e com seus amigos.

Nos bons e nos maus momentos, sabia ser um amigo fel, encontrando palavras sinceras e tocantes, com o conselho necessário e o incentivo que permitia que alguém começasse de novo. Sua ternura era uma característica peculiar, natural ou cultivada, uma mistura sutil e refinada de simplicidade e verdadeira intimidade que sabe como manter o equilíbrio e a distância. Observador agudo, ele era um líder no sentido de que, como sacerdote, equilibra o senso de liberdade e de responsabilidade, valores que fazem as almas crescerem à vista de Deus.

(Fonte: Cartas a M. Marie-Eugénie de Jésus, dez 1840 – texto traduzido e editado por Ehusson Chequer)

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